Relutei em meter a colher nesse tema, mas não me sofri.
Certos assuntos na imprensa viram moda. Nesse momento, tá na moda tocar terror
na população paulista (e brasileira) por causa da “onda de crimes” que assola
São Paulo. O terror alimenta a imprensa, que alimenta a população, que alimenta
o boato, que alimenta o terror. Essa semana o tom dado pela revista VEJA ao
tema me chamou a atenção. A matéria puxa a brasa para o Governo de São Paulo,
ok. Mas os fatos são os números. Mostram que São Paulo não tem mais crimes que
qualquer mega cidade e apontam também que já foi pior. O colunista Reinaldo Azevedo trouxe a tona alguns destes números:
- O estado de São Paulo apresentou em 2011 o menor índice de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) do país em 2011 (10,8 mortes por 100 mil habitantes - a média Brasil é de 23,6/100 mil habitantes).
- Com este indicador, São Paulo ficou abaixo do Alagoas (76,3/ 100 mil), do Espírito Santo (45,6/100 mil), Bahia (33,2/100 mil) e Rio de Janeiro (25,8/100mil).
- Levando em conta o número do Rio de Janeiro, por exemplo (25,8/100 mil habitantes), Reinaldo menciona que a propabilidade de um morador do RJ ser vítima de algum crime considerado no índice CVLI é 138% maior que de um paulista.
- Em 2000, o mapa da violência em São Paulo era de 42,2 mortos/100 mil habitantes e em 2010 foi de 13,9% (baixou 67%).
Não sou especialista nem em segurança, nem em estatística, só um abusado. Mas respeito números que falam sozinhos. Não quero jamais tornar o
fato menor do que o real, longe disso. Mas converso com amigos paulistanos
sobre o assunto e as posições são parecidas: “-Vida normal. Sempre os mesmos
cuidados ao sair a noite, durante o dia, mas a vida é normal.”
Também não me considero um apaixonado por São Paulo, mas me compadeço da injustiça contra a cidade e o estado a reboque - um exagero. Existe sim um confronto entre o crime organizado e a Polícia,
mas isso sempre houve. E nem sem compara ao que ocorria no passado, pós-invasão
do Carandirú pela Polícia Militar, em 1992 (o presídio do Carandirú, em São
Paulo, foi implodido em 2002 e um parque foi construído no local). O ocorrido
na época teve um saldo oficial de 111 presidiários mortos. O evento teria sido
o suposto motivador pra que bandidos se organizassem no chamado PCC (Primeiro
Comando da Capital). Com o alegado motivo de combater a opressão, vingar os
mortos e protestar contra as péssimas condições as quais vivem os detentos no
sistema prisional brasileiro, o PCC passou a coordenar de tempos em tempos,
ações intimidatórias, tais como alvejar policiais, delegacias ou incendiar
ônibus. Com o passar dos anos, esse “poder” paralelo vem ficando cada vez menos
coeso e atuante, na mesma proporção em que ações de inteligência por parte da
policia vão se sofisticando. E nem a atitude do Governo de São Paulo de
minimizar o fato nem a atitude da imprensa (ou de facções políticas) em tocar o
terror na população ajudam de forma produtiva. O que dizer então de um Ministro
da Justiça que diz o que pensa na hora errada? O Ministro José Eduardo Cardozo
disse no dia 13 de novembro de 2012: “Nós temos um sistema prisional medieval.
Se fosse para cumprir muitos anos em algumas prisões nossas, eu preferiria
morrer.” Mas não é DELE a pasta que cuida do sistema prisional? E está assim
desde quando?
Parabéns, Ministro. Uma declaração destas é tudo que uma
população com receio dos bandidos e da sua própria polícia NÃO precisa.
p.s. - me recuso a comprar a VEJA, faz muito tempo que deixou
de ser interessante. Mas para o Dr. Google tudo é possível e de graça...
fonte: Revista Veja, Blog Reinaldo Azevedo, Anuário brasileiro de segurança pública, Yvonne Maggie - G1
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