Jair Rodrigues se foi. Fechou seu pano, rápido e a gente ficou por aqui
se perguntando porquê. Que pena. O Otaviano Costa definiu bem o que é o Jair Rodrigues: "a gente sempre teve a impressão que ele viveria uns 200 anos".
Queria escrever algo, mas achei tão bacana e sincero o que o Caetano veloso disse, ontem, durante a turnê que está fazendo pela Europa. Ficou nada mais a dizer:
Queria escrever algo, mas achei tão bacana e sincero o que o Caetano veloso disse, ontem, durante a turnê que está fazendo pela Europa. Ficou nada mais a dizer:
"Jair Rodrigues é uma dessas poucas grandes coisas de que Brasil
deve se orgulhar. Ele foi talento espontâneo e alegria genuína combinados ao
respeito pelo que veio a ser o seu trabalho. Não havia nenhuma atmosfera de
prestação de serviço nessa disciplina. Era uma forma de expressão do seu
natural companheirismo, nunca um cumprimento de dever empregatício. A gente faz
música para não trabalhar, me disse Stefano Bollani. Jair era a encarnação
dessa verdade. No entanto, ninguém mais assíduo, pontual, disposto a colaborar.
Hoje é dia de São Nicolau, a cidade de Bari está em festa. Procissões
marítimas, fogos de artifício, música. São Nicolau era preto. Do nome dele, que
presenteava as crianças pobres na noite de Natal, veio a corruptela Santa
Claus, que é o Papai Noel dos americanos que nós importamos junto com a
Coca-Cola. Jair Rodrigues era um preto brasileiro cuja alegria toda a marra do
hip-hop não abrangeria com sua crítica. Ela era por demais real, livre e
superior. A felicidade que emanava de sua vida com Claudine, do desenvolvimento
das personalidades e dos talentos de Jair Oliveira e Luciana Mello, as flexões
que ele fazia no chão dos bastidores da TV Record, tudo se impõe como uma
afirmação em plenitude de uma força vital humana. Sua parceria com Elis no Fino
da Bossa é um dos momentos altos da história de nossa música. Ela dominava a
matéria musical com todas as suas fibras tensas (mas o fazia de modo
impactantemente rico e variegado), enquanto ele representava o relaxamento e a
despreocupação. No entanto, assumindo a responsabilidade da 'Disparada', Jair,
com sua incrível voz de tenor, emprestou à canção uma autoridade de outra
natureza que não a dela mesma enquanto composição (que não era, de nenhum modo,
pequena). Seu timbre, a cor de sua pele, o tom que ele deu ao abandono da
brincadeira - a interpretação da música de Vandré e Theo de Barros revelou um
homem brasileiro que reequilibrou nossa autoimagem. Para minha cabeça, Jair
morrer é um contrasenso. É comum tecerem-se elogios à personalidade dos que
deixam a vida, mas no caso de Jair Rodrigues, todos os lugares-comuns poderiam
ser repetidos e ainda assim estariam sendo ditos pela primeira vez. E mesmo que
os desfiássemos todos ainda estaríamos aquém da pletora de louvores que ele de
fato merece". (Caetano Veloso)
texto publicado por Luciana Mello em seu perfil no Facebook.
texto publicado por Luciana Mello em seu perfil no Facebook.