Oito de agosto de 1969, uma
manhã de sol que tem pouco a ver com a cara de Londres. “- Quero conhecer mais esse
Museu, não vou demorar”. Paul Cole não acreditava no que estava ouvindo. Perdera a conta dos museus os quais havia
entrado e saído nos últimos dias - pra ele, bastava de museus. Mas passar férias em Londres era um sonho antigo de sua esposa e não
queria desagradá-la. Ponderou: “- Você vai lá, dê uma olhada, não tenha
pressa e eu ficarei aqui para ver o que está acontecendo do lado de fora.” E
assim ficou por ali, aproveitando pra se olhar no reflexo negro de um carro de
polícia - óculos e casacos recém comprados, acha que ficou bem, apenas um “tapa”
no cabelo pra completar o visual alinhado. Um policial o observava de dentro do carro, puxou papo: “ -O
senhor e sua esposa são de onde?” Paul arrumou os óculos: “-Deerfield Beach,
Flórida, Estados Unidos. Minha esposa não pode ver um museu, já quer entrar.” E a conversa se
estendeu por mais de uma hora, sobre o tráfego, a história de Londres, a história daquela rua, enquanto
rolava há metros dali uma movimentação estranho. Paul percebeu uns caras
atravessando a rua diversas vezes, iam e voltavam sobre a zebra da esquina.
Volta e meia, a policia parava o trânsito e os caras repetiam a caminhada. Conversavam
entre si, no meio da rua, ou em fila indiana e um fotógrafo registrava tudo frenéticamente. Usavam
uns ternos modernos, mas que não combinavam muito com os cabelos compridos. Um
dos quatro estava descalço. Chegou a pensar que fosse algum protesto contra a guerra,
coisa do tipo, mas não. Talvez uma sessão de fotos para alguma capa de revista. Ia
perguntar ao policial se sabia alguma coisa, quando foi puxado pelo braço.
Ester tinha deixado o Museu e chamava o marido para pegarem um táxi. Se foi.
Deerfield, Flórida – primavera
de 1970. O vendedor Paul Cole chega do trabalho. Encontra a filha Joan na sala,
fones no ouvido. “- Disco novo?” E pega a capa encima do toca discos. Conhecia
a rua e agora reconhecia os cabeludos na capa. Aproximou a capa pra enxergar
melhor por sobre os óculos – também conhecia a viatura parada no meio fio e
reconheceu ali a sua silhueta de casaco novo, “perto” do ombro de John Lennon.
Que coisa. Foram necessários vários
anos para que Paul Cole percebesse o que significava estar ali na Rua Abbey Road naquele
agosto de 1969. Sem querer, participou da capa de um dos discos
mais cultuados dos Beatles e um dos registros fotográficos mais antológicos da história do Rock.
Aos 93 anos, Paul faleceu em 2008, o misterioso estranho da Rua Abbey Road, em
frente aos estúdios da gravadora EMI. E, naquele dia de 69, estava apenas enjoado de ver museus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário