Falo comigo. Muito e o tempo todo, não é alucinação auditiva. Fico muito ao telefone, com muita gente, o dia todo. Mas tem um único momento em que sou absoluta e brutalmente honesto e transparente: quando falo comigo mesmo. Não tem mentira nem omissão quando se trava um diálogo desses. Gosto de ouvir a minha voz dizendo coisas, programando alternativas. Ouço as sentenças, me avalio, pondero. Discordo de mim e revejo. Me faço perguntas e respeito as respostas. As vezes me ouço em silêncio, em respeito absoluto. Aprendi a não esperar respostas de bate-pronto, “cozinho o galo”. E a solução vem, ainda que nem sempre da forma como eu esperava. Aí, me conto uma piada e alivio o stress. Resiliência e pronto. Parece mais fácil exercitar tolerância quando o próximo é a gente mesmo. Há muito tempo, não lembro exatamente a partir de quando, mas adotei um exercício que muito tem me valido: converso comigo mesmo antes de verbalizar o que seja pra quem quer que seja. É uma forma de buscar ser melhor compreendido. Nem sempre consigo, porque em tempo real, não dá. Mas sigo tentando.
Nunca estranhei gente falando sozinha, nem quando era criança. Não relacionava com nada que pudesse ser anormal ou um problema mental. A criançada faz isso com naturalidade o tempo todo, é parte do desenvolvimento delas, mas e os adultos? Pensam alto, falam com os botões. Fazem esquemas mentais e verbalizam. Acho que é isso. Acho não – mais gente acha isso. Um estudo da Universidade de Toronto diz que falar sozinho ajuda a manter o auto-controle e diminui a impulsividade na tomada de decisões. Michael Inzlicht, líder do projeto, afirma que quem não têm a capacidade de ouvir "a voz interior” se mostra muito mais impulsivo e despreparado.
Gostei disso. Não me sinto um Yoda, mas gostei disso. Não raro, topo com gente que fala muito, de tudo ao mesmo tempo e muito pouco se aproveita. Um papinho entre o ouvido esquerdo e o direito podia resolver. Não sei , mas vou perguntar pros seus botões.
fonte: article in press, julho de 2010
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