Um amigo uma vez me disse: “Se quiser ser presidente de empresa, comece por uma boa memória. Presidentes têm uma capacidade incomum pra lembrar de tudo e de todos”. A partir desse dia, percebi que nunca seria Presidente de coisa alguma. Sou hiperativo mentalmente e bastante disperso, memória não é meu forte. Lembro um rosto que não via há dez anos facilmente, mas o nome só lembro depois da terceira gafe com a mesma pessoa. Adquiri então o hábito de, após o aperto de mãos, fazer uma pergunta de checagem: “Seu nome mesmo...?” A pessoa responde e eu, gentilmente: “Ok, agora não esqueço mais” – esse é o sinal que combinei com meu cérebro pra que não mais esqueça o nome daquela pessoa, uma espécie de marcador - tem funcionado muitíssimo bem. Lembro com facilidade datas de lançamentos de filmes e músicas, nomes de atores, mas levei dois anos pra memorizar a placa do meu carro. Lembro fatos históricos, mas não raro bloqueio meus cartões de crédito por esquecer as senhas. Memória, memória. Tenho me esforçado pra mantê-la focada. Mas parece que até a tecnologia se tornou um risco iminente à memória. Um artigo de Gilberto Dimenstein relata o trabalho feito por pesquisadores de Harvard a respeito do efeito que causa sobre a memória o acesso fácil à informação. Segundo o estudo, existe uma clara tendência de irmos perdendo a capacidade de memorizar já que tudo está fácil – precisou de um dado mais complexo, é só passar a mão no celular ou no gadget mais próximo. Tudo com apenas um aplicativo simples. Isso deve mudar drasticamente a didática de ensino, ainda muito baseada na decoreba. O desdobramento dos fatos passa mesmo a ser mais importante do que decorar fatos e dados em si. Esse passa a ser, segundo o artigo, o ponto mais preocupante para educadores americanos: definir e separar o que é realmente relevante assimilar.
No final, a gente volta a um ponto primitivo: como o cérebro lida com o excesso de informação? Seleciona naturalmente e decodifica lembranças através de desenhos, imagens. Então, aquelas memórias que melhor forem decodificadas, ficam e as demais são descartadas, ou seja, memória fotográfica (estudo realizado por Brice Kuhl, da Universidade de Yale, e relatado em artigo da Folha de São Paulo - Juliana Vines). Ou seja, por mais que a vida moderna nos cobre uma atitude multitarefa, é impossível e antinatural lembrar de tudo. Concatenar coisas e velocidade de raciocínio são as competências que precisamos ter apuradas em nossas crianças. O resto, deixemos pro memory card. Sobre lembrar de tudo, perdão, é quase impossível – veja artigo aqui no blog sobre Hipertimesia (clique aqui).
fonte: Folha de São Paulo
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