Gostei dessa chamada e usei como título deste post - você vai saber porquê
Vote contra a impunidade no trânsito (link abaixo) |
Por várias vezes me peguei pensando em catástrofes e martírios pessoais. Um exemplo: estou deitado na cama e começo a criar uma história na minha cabeça imaginando como seria se alguma das pessoas a quem amo muito tivesse uma doença incurável ou fosse atropelada. Se minha esposa morresse der repente ou acontecesse algo hediondo com meu filho. Vou viajando até os detalhes sórdidos, até onde meu sentimento (e um pouco de sangue frio) permite – tento fazer imagens, com num roteiro de filme. Vou até onde fica pesado demais, daí busco uma distração qualquer pra esquecer o assunto. Porque já fiz tanto isso? Pra me testar. Como seria se uma destas aberrações acontecesse de fato? O que eu faria? Que rumo daria pra minha vida? Que sentimentos viriam à tona? A conclusão? Parei de fazer isso quando percebi duas coisas: primeiro, que esse tipo de autoflagelação me faz mal demais. Segundo que é impossível querer reproduzir as sensações provocadas pela coisa real. A empatia de fato acontece quando arregaçamos as mangas em prol de quem já passou por isso. O ponto comum, mais que o sentimento, é o repúdio. Perdoem o tom macabro, mas é a expressão de um sentimento.
Então mirei minhas baterias pra quem dirige bêbado – farei a campanha que for necessária, que estiver ao meu alcance. Chega de gente bêbada dirigindo e matando pessoas por aí. Essa escolha aconteceu no dia em que soube da história da família Baltresca, em todos os jornais. Pra quem não viu, em setembro de 2011 Dona Miriam (uma maezona de carteirinha) acompanhava a filhota de 28 anos, Bruna (filha exemplar) pra comprar livros de viagem no Shopping Villa Lobos em São Paulo. Bruna estacionou o carro numa rua transversal, porque encontrar vaga nesse Shopping é sempre loteria. Na saída, iam pro carro, quando um maluco bêbado dirigindo um Golf desgovernado subiu na calçada e atropelou as duas. Nome do “maluco”: Marcos Alexandre Martins. Dona Miriam faleceu na hora e a Bruna, pouco depois no Hospital. Comecei a acompanhar os depoimentos do Rafael Baltresca, filho e irmão. No Facebook, no Youtube, na imprensa em geral. A atitude de Rafael, misturada com o sofrimento de quem tem a vida virada do lado avesso da noite por dia, me fizeram sentir um mal estar tão grande... Depois, comecei a perceber que tiveram muitos outros "Rafaéis", familias amputadas pelo mesmo tormento. A gente custa a perceber o valor disso tudo, afinal sempre se passa batido sobre essas "fatalidades de Jornal Nacional". Tá errado. Muito errado.
Lá por 2008, mais ou menos quando essa história de Lei Seca no Brasil apareceu, comecei a torcer o nariz pra bebida de álcool. O motivo não era muito nobre, mas efetivo - não queria nem ser pego numa blitz e nem dar mau exemplo pro meu filho. Simples assim – naquele momento, sinceramente, não me ocorreu qualquer sentimento consciente de precaução quanto ao risco de dirigir alcoolizado. Mas comecei a beber só em casa, sabendo que não ia dirigir e isso me deu certa tranquilidade. Um dia, num churrasco caseiro, passei da conta e me senti tão mal que parei com o álcool e hoje vejo que foi a melhor coisa que podia ter feito. Até hoje alguns amigos me perguntam se teve motivação religiosa ou coisa do tipo, ao que eu respondo sempre: “não, simplesmente perdeu a graça”. A cultura dessa droga lícita é tão forte que as pessoas não acreditam, fazem aquela cara algo do tipo “como assim? Esse cara consegue se divertir sem beber? É um ET”. Sou mesmo. Mas posso pegar meu carro e saber que jamais vou fazer mal a quem quer que seja, a menos que alguma fatalidade esteja em meu caminho. Aí deixo por conta do Papai do Céu, sei que estou fazendo a minha parte. Não me sinto um exemplo, pois o que serviu pra mim pode não servir exatamente pra você. Não tenho nada contra uma birita doméstica, ainda que tenha abdicado dela. Eu disse DOMÉSTICA.
Quer ajudar? ASSINE A PETIÇÃO NO SITE “NÃO FOI ACIDENTE” (CLIQUE AQUI), forçando o Congresso a tornar a Lei Seca mais dura e efetiva no Brasil. É rápido e indolor. PENSE – a próxima família destroçada por um motorista bêbado pode ser a MINHA, a SUA.
Veja abaixo entrevista de Rafael Baltresca - programa Ana Maria Braga (20/09/2011), três dias depois do acidente que vitimou Dona Míriam e Bruna.
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