Páscoa lembra coelhos. Mas não tenho uma história de coelhos pra contar. Então lembrei de uma legal sobre porquinhos da Índia, aquelas fofuras. “Cui-cui” é o nome em outros países por causa do barulho que fazem. Quando era garoto, ganhei de Páscoa um porquinho da minha tia, branco com uma mancha no olho, um pirata perfeito. Não tinha visto muitos assim em lojas de animais. Qual a criança que não se encanta por um porquinho da Índia? Aliás, gente que não gosta de bicho, desconfie. O nome “Porquinho da Índia” não tem nada a ver com suínos, pois são roedores. E reza a lenda que não tem nada a ver com a Índia também. Esse nome aconteceu porque os nativos da região que seria a futura América Latina pós-descobrimentos criavam os Cui-Cui pra comer.
Tudo certo com o tal porquinho, não fosse meu primo, espírito de porco, dar uma porquinha pra minha irmã também. Em dois meses tínhamos 24 porquinhos em casa – eles só pensam em sexo e na disputa pelas fêmeas, os machos se atracam. Aprendemos isso apartando a bicharada. A gritaria era angustiante, um prato cheio pra minha mãe, que estava quase louca. Lindos bichinhos, comeram também algumas almofadas de estimação...depois se desfaziam delas pelo caminho, deixando um rastro de minúsculas azeitonas pretas por todo o sofá. Aquilo deixava petit pois as calças de quem displicentemente sentasse por alí. Um dia, a empregada esqueceu a gaiola aberta. Não sei como os gatos da vizinhança não fizeram a festa, mas desconfio: nossos Cui-Cui estavam bem gordinhos, difíceis de carregar na boca e bem maiores que ratos comuns. Com tanta oferta fácil, se eu fosse um gato, desconfiaria. Nesse dia tinha porquinho pela casa toda, parecia mesmo caçada a ovos de Páscoa fora de época. Minha vó quase quebrou a bacia pra não pisar num deles que insistia em se esconder em um dos seus sapatos. Esses bichos têm um problema respiratório congênito, por isso, morrem muito. E se você tem muitos, imagine que nossa casa virou um velório. Sempre que morria um, minha irmã surtava, e por tabela, minha mãe. Nosso pátio virou o cemitério de Arlington, só que sem aquelas cruzes brancas que aparecem em tudo quanto é filme de guerra americano. Minha vó gostava de arrancar salsa da horta. Volta e meia era um grito de horror quando, sem querer, exumava um bicho.
Um dia, surtou meu pai. Cansado de chegar em casa e ter sempre o tema porquinhos pro jantar, juntou aquilo tudo no carro e tocou pra feira de animais. Vendeu todos por uma bagatela. O luto lá em casa durou uma semana, depois era só alegria. Pense bem antes de presentear seu filho com algo, digamos, criativo e interativo. Sua dor de cabeça agradece. Boa Páscoa!
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