sábado, 22 de maio de 2010

Instituto Butantã - Eu ví, meu filho não (e o seu também não).

Queria levar meu filho ao Instituto Butantã. Vinha fazendo planos, queria que ele visse o que eu ví com a idade dele, quando meus pais me levaram. A gente vai empurrando com a barriga, coloca outras coisas como prioridade, afinal o Instituto está lá há tantos anos, vai continuar lá. Não deu tempo. O fogo chegou primeiro e, em 15 de maio, consumiu tudo o que minha memória e algumas fotos de época conseguiram registrar. Achei a repercussão estranhamente pobre e restrita às pessoas ligadas ao meio acadêmico, às áreas de pesquisa. Pra mim já foi suficiente, pois vejo o desespero nos depoimentos dando a dimensão da perda e o reflexo disso para o futuro da pesquisa no mundo, visão essa que infelizmente nós leigos não temos. Mas o pouco espaço e barulho em torno do ocorrido mostra claramente o valor dado aos registros históricos e ao trabalho de centenas de milhares de pessoas que dedicaram uma vida por aquilo.
E a caravana segue, a vida segue. Roubaram quadros importantes do MASP, toda a obra de Helio Oiticica vira fuligem e vida que segue. É normal, “acidentes” com quadros velhos acontecem (!?). Um incêndio em um museu com um monte de cobras e aranhas secas não seria diferente. Como dizer pro mundo científico que 450 mil espécimes de aracnídeos e mais de 75.000 espécimes raros simplesmente queimaram em um incêndio por causa de um curto circuito? Mais de 100 anos de herpetologia guardados em um prédio sem sistema de detecção de fogo e os espécimes alí, conservados em potes...com álcool.
No Louvre paga-se 9 euros (cerca de 20 reais) por um ingresso. No Butantã, custa 6 reais e estudante paga meia. E a vida inteira conheci mais gente se gabando de ter visitado o Louvre, mesmo sem ter tido qualquer afinidade ou conhecimento profundo sobre obras de arte. Herança colonialista.
No site, o Butantã agradece as manifestações de solidariedade e avisa que os 42 livros com registros de todos os espécimes perdidos felizmente estavam em outro prédio e estão preservados, assim como os arquivos digitalizados. Pelo menos a informação está salva, pra consolo da memória do Dr. Vital Brasil. Com estes registros, a esperança de localizar novos exemplares de espécimes perdidos é uma possibilidade. Meu profundo respeito ao herpetólogos brasileiros, que terão essa missão.
Meu filho não viu o Butantã. Pelo menos as fotos de quando eu tinha a idade dele salvarão a lavoura. Não são mais do que doze ou quinze, mas ao menos estão em lugar seguro e tratadas com carinho. Parece pouco, mas acho que meus pais fizeram a parte deles, prometo fazer a minha. Ao meu amigo Ednei Fernandes, um abraço e obrigado por levantar a bola para o tema!

Um comentário:

  1. Parabenizo pelo texto. Infelizmente no mundo atual o significado da história expressa em documentos e quadros, ou mesmo das pesquisas, as quais conduzem inúmeras pessoas em seu desenvolvimento acaba não tendo a valorização merecida, o bem público não é percebido como algo de todos e que por isso precisa ser preservado, é apenas um elemento que pode se acabar e se destruir sem nenhum prejuizo aparente, mas nós sabemos o tamanho deste prejuízo o qual reflete para toda juventude e gerações posteriores.

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