sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Vá em paz, maestro Pletskaya

Não lembro de algo na vida do qual me arrependa. Até hoje. Me arrependi de ter repensado se iria assistir Tangos & Tragédias na temporada de verão deste ano de 2014 em Porto Alegre. Fiquei na cidade 4 dias apenas por motivo de doença na família e um desses dias era o sábado. A decisão recaiu sobre motivo fútil: não consegui ir ao centro de Porto Alegre comprar o ingresso – não vendem por internet, só na porta do tradicional teatro São Pedro. Devia ter me esforçado mais, até errado mais, ter feito o que devia fazer...


Uns dias depois, quando voltei dessa fugida ao sul, li nos jornais sobre a interrupção do espetáculo e a internação do ator Nico Nicolaiewsky, pra tratar uma leucemia. Tive um mau pressentimento. Devia ter ido ao espetáculo. Tem coisas que só se vive uma vez. Assim como a maioria dos portoalegrenses, já assisti várias performances do Tangos, sempre soava diferente, mesmo sendo igual. Queria ter essa chance só mais uma vez, mas não vai dar. Nico se foi, ou melhor Pletskaya. Ficou só o Kraunus.

O acordeão mágico que nos fazia rir e chorar com interpretações improváveis de sucessos improváveis ficou quieto. Aprendi que a distância entre o arrependimento e a bilheteria de um teatro pode ser bem maior do que se imagina. Aquele ingresso tava lá me esperando e não fui.

E também aprendi que é na Sbórnia que se dança o Copérnico. Lá, ninguém morre de fato. Vá em paz, Pletskaya.

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