quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Acorde para o Câncer de Mama - entrevista com Gilze Francisco


Gilze Francisco
Presidente do Neo Mama
A enfermeira Gilze Francisco descobriu-se um dia, aos 38 anos, portadora do Câncer de Mama.  Arregaçou as mangas e enfrentou seu destino, na luta contra a doença e suas adversidades. Fez mais que isso – criou um site – www.cancerdemama.com.br – hoje considerado o mais relevante sobre o tema em língua portuguesa. E fez mais ainda – Fundou o Instituto Neo Mama  de Prevenção e Combate ao Câncer de Mama, responsável por inúmeras iniciativas de peso, focadas no suporte às portadoras do Câncer de Mama.
Entrevistar Gilze foi um privilégio para o “Se Espirrar, Saúde!”. Conhecermos um pouco mais de sua vida e suas iniciativas e apresentar tudo aqui é uma forma de participar dessa cruzada.  
SeES! - Quando e como foi que começou o NEO MAMA?
Gilze - O Instituto Neo Mama surgiu após o site www.cancerdemama.com.br. Foi um grande passo, pois uma atitude inédita sempre incomoda, e só surgiu porque fui falar ao vivo sobre o assunto no "Domingão do Faustão" – fui muito cobrada sobre o porquê das mulheres da região terem que entrar no site ou telefonarem-me para conversarmos. Daí a idéia do Instituto.
SeES! - Quais foram os maiores desafios para colocar esta ONG para funcionar?
Gilze - A falta de dinheiro (na realidade, é um desafio até hoje), e principalmente pelo fato de lidarmos predominantemente com mulheres. A imagem de fortaleza da mulher atrapalha, por mais incrível que possa parecer, não comove como a de uma criança, adolescente ou idoso. Passamos sempre a impressão de "possibilidades mil". Graças a Deus, a credibilidade e a seriedade das nossas propostas sobrepuseram-se sempre. Continuamos lutando.
SeES! - Qual o maior foco de atuação de grupo atualmente?
Gilze – É a interdisciplinariedade do atendimento, visando a reestruturação da mulher acometida pelo câncer de mama, sua reinserção na sociedade e mercado de trabalho. Auto-estima e auto-imagem também são focos fortes dentro do nosso antendimento.
SeES! - Hoje o NEO MAMA conta com quantos colaboradores e quais as funções ou missões de cada grupo, se posso assim chamar?
Gilze - Contamos com um grupo de aproximadamente 40 voluntários comprometidos, engajados, onde realizam seus trabalhos segundo suas funções. Advogados, nutrição, fisioterapia, auxilio a sexualidade, artesãs, cada um tem seu espaço, tempo de atuação e metas. Quem não se identifica, logo se desliga, isso acontece.
SeES! - As atitudes em torno do CA de Mama estão evoluindo no Brasil? Temos números sobre isso?
Gilze - Podemos detecta-lo precocemente, a fim de podermos evitar cirurgias mais mutiladoras, tratamentos mais agressivos e baixa sobrevida. Os números indicam (segundo o INCa), que em 2010 perto de 42.000 mulheres se descobrirão portadoras de câncer de mama, e aproximadamente 11.000 mulheres morrerão - é o câncer que mais mata mulheres no Brasil.
SeES! - Você pode citar quais as empresas alavancam o NEO MAMA?
Gilze - Libra Terminais, Clínica Mult imagem, Unicred Metropolitana, Moinho Paulista. Com exceção à primeira empresa, as demais patrocinam o programa "Um Toque Pela Vida", que vai ao ar para toda Baixada santista pela Santa Cecilia TV, e para todo o mundo pelo site www.santos.tv.br/umtoquepelavida.
SeES! - Gilze, porque as pessoas são tão reticentes em tomar uma atitude quanto ao exame para detecção do CA de Mama?
Gilze - Por questões culturais e religiosas, principalmente, além do baixo nível de informações coerentes e acessíveis, e da escassez das mesmas. O medo também é um fator forte, pois paralisa, faz com que percam tempo, acreditem que ao ignora-lo ele desaparecerá, etc. O medo e o sentimento de culpa que vem depois, associados ao medo da perda da mama são cruciais.
SeES! - Me parece que muitos consideram esse tipo de mobilização “piegas”, fruto de uma banalização. Isto faz sentido ou é uma visão equivocada?
Gilze - Não faz sentido algum! Toda informação ainda é pouca perto da triste realidade do câncer de mama. Só quem passou por ele ou viu de perto o sofrimento de outros sabe dizer ao certo. Banalização é ignorar o crescimento dos casos ano-a-ano, as vidas que se vão por falta de diagnóstico precoce, ver que muito poderia ser feito, mas que poucos se mobilizam com seriedade e sem outras intenções para deter o índice de mortalidade por câncer de mama.
SeES! - De zero a dez, como você avalia a atenção dada ao tema Câncer de Mama:
Gilze - Mídia, nota 0. A midia não se dedica, despreza e menospreza a grandiosidade do problema. Agem como se tudo fosse auto-promoção para quem as propõe. Pura falta de visão e de preparo para este tipo de abordagem. Governo, nota 0. Motivos semelhantes aos acima citados, excetuando a responsabilidade inerente aos governos, que é grande e omissa. Iniciativa privada, nota 5. Se interessa um pouco mais "quando se deixa ouvir". Comunidade médico-científica, nota 8. Todos estão cientes e conscientes desta realidade.
SeES!  - Em que veículos de comunicação como o nosso blog, no facebook e no linked in (por exemplo) podem contribuir para a luta contra o Câncer de Mama?
Gilze - Divulgação sem exageros, realidade sem máscaras, mas com sutileza, elegância e clareza. A mulher é um ser privilegiado, inteligente, que muitas vezes esconde a doença porque percebe que sua família não está preparada para este diagnóstico (a seu ver). Poupa mas não é poupada. Esclarecimentos sempre são importantes, mas vindos com embasamento, sem "achologismo". Uma dura realidade, bem colocada, sempre é melhor e ajuda mais que uma doce mentira ou omissão.
SeES! - E você? Conte como foi a sua trajetória do início de tudo até os dias de hoje com o NEO MAMA.
Gilze -  Descobri-me portadora de um câncer de mama em maio de 1999, após realizar o auto-exame. Ao procurar na Internet sobre o assunto, quis criar um site onde as mulheres pudessem ter aquilo que eu mesma procurava: esclarecimentos e esperança. Criei então o site www.cancerdemama.com.br, o mais acessado no mundo em língua portuguesa sobre o assunto. Depois dele veio o Instituto Neo Mama, o programa de Tv e palestras por todo o Brasil
SeES -  Uma mensagem final aos leitores e leitoras?
Gilze - Gostaria de, se possível, "entrar" dentro das mentes e corações (são terras onde ninguém vai) e conscientizar que encontrar um câncer de mama pequeno, precoce, é curável. Mesmo em alguns casos, um pouco mais adiantados, como o meu, podem resultar em sucessos. Deixar para lá, não ir ao médico ou seguir suas solicitações, notar anormalidades e ignora-las são fatais em se tratando de câncer de mama. Lutar de peito aberto é o que de melhor podemos fazer. Pare de colocar o que lhe ameaça debaixo do tapete, pinte sua vida com cores mais fortes, vibrantes, e a nebulosidade irá embora. Sua cabeça lhe salva ou lhe condena. Cabe a cada um de nós optar pelo caminho a ser trilhado...

Um comentário:

  1. Dani,

    Esta pergunta está sem sentido: "Gilze, porque as pessoas são tão reticentes a tomar quanto ao CA de Mama?".

    1 abç, Alex.

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