Sempre voei muito e nunca tive medo. Mesmo durante o caos aéreo em 2007 – nos dias pós acidentes da TAM e da Gol, ficava observando as expressões das pessoas na fila do embarque – todo mundo se olhava, todos se estudando mutuamente e o silêncio era um cúmplice disfarçado. Naqueles dias, o avião decolava e vinha sempre o pensamento: se hoje for “aquele dia” ou daquele senhor de terno na 7C, ok - que seja rápido e sem sofrimento. Mas com o tempo, tudo foi voltando ao seu lugar, rotina, malas, agenda, horários, caos.
Essa semana conheci uma tensão nova pra mim em longos vôos noturnos. Um colega passou mal no vôo. Tontura, cinetose em alto grau, baixa de pressão arterial. Foi socorrido e atendido a 11.000 pés pelo diretor da minha empresa, que é médico (Ricardo, a sensação de ter um médico por perto numa hora dessas é tranqüilizadora). Mas o Zuca não conseguia ficar sentado, tudo rodava e tudo vinha abaixo. Segundo ele “Cara, pensei que dessa vez eu ia dessa pra melhor”. Ele precisou ficar deitado no chão da galey (na cauda, local onde fica a cozinha do avião) e, pasmem: com a cabeça e o tronco pra dentro de um dos banheiros e as pernas para fora. Um frio absurdo, só amenizado por 5 cobertores. Estava fraco, zonzo e assustado (é natural). Como quase não durmo em vôos noturnos, deixei de lado o filme da Sandra Bullock e fui pro lado dele, pro caso de precisar de alguma ajuda. “A Gula” de Luiz Fernando Veríssimo, me fez companhia. Quando a turbulência e o frio ficaram insuportáveis, perguntei à aeromoça se poderia sentar na poltroninha da tripulação, de frente para o banheiro – “Não senhor, aqui sento eu, o FAA não permite que passageiros usem”. Então vou sentar no chão – ela deu de ombros e foi servir alguém. Já tive duas experiências com tripulantes da United e nas duas vezes, não foram exatamente modelo de polidez. Mas o ápice foi a chefe de cabine, pedindo que eu sentasse imediatamente, pois “tanto o meu colega estendido no banheiro quanto a mim sentado no chão ao seu lado por mais de 3 horas representavam risco e eram contra o regulamento do FAA”. Não quis aumentar a tensão, mas protestei que “a falta de um plano B adequado por parte da United para passageiros que passam mal em um vôo lotado era algo que certamente o FAA também não gostaria de saber”. Mas não dá pra discutir normas e procedimentos numa situação destas.
Dez horas depois, meu colega saiu do avião direto para o ambulatório do aeroporto de Guarulhos e dali, para o hospital. Crise de labintite? Não se sabe ao certo, o importante é que o Zuquinha está bem.
Belchior tinha razão. Posso dizer que agora tenho medo de avião e esse medo adquiriu contornos mais modestos – agora não penso “e se cair?” e sim “e seu passar mal?”. Um absurdo, dona United, um absurdo. Para vôos noturnos, tenha sempre um antiemético a mão e Saúde Sempre!
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