
Essa semana conheci uma tensão nova pra mim em longos vôos noturnos. Um colega passou mal no vôo. Tontura, cinetose em alto grau, baixa de pressão arterial. Foi socorrido e atendido a 11.000 pés pelo diretor da minha empresa, que é médico (Ricardo, a sensação de ter um médico por perto numa hora dessas é tranqüilizadora). Mas o Zuca não conseguia ficar sentado, tudo rodava e tudo vinha abaixo. Segundo ele “Cara, pensei que dessa vez eu ia dessa pra melhor”. Ele precisou ficar deitado no chão da galey (na cauda, local onde fica a cozinha do avião) e, pasmem: com a cabeça e o tronco pra dentro de um dos banheiros e as pernas para fora. Um frio absurdo, só amenizado por 5 cobertores. Estava fraco, zonzo e assustado (é natural). Como quase não durmo em vôos noturnos, deixei de lado o filme da Sandra Bullock e fui pro lado dele, pro caso de precisar de alguma ajuda. “A Gula” de Luiz Fernando Veríssimo, me fez companhia. Quando a turbulência e o frio ficaram insuportáveis, perguntei à aeromoça se poderia sentar na poltroninha da tripulação, de frente para o banheiro – “Não senhor, aqui sento eu, o FAA não permite que passageiros usem”. Então vou sentar no chão – ela deu de ombros e foi servir alguém. Já tive duas experiências com tripulantes da United e nas duas vezes, não foram exatamente modelo de polidez. Mas o ápice foi a chefe de cabine, pedindo que eu sentasse imediatamente, pois “tanto o meu colega estendido no banheiro quanto a mim sentado no chão ao seu lado por mais de 3 horas representavam risco e eram contra o regulamento do FAA”. Não quis aumentar a tensão, mas protestei que “a falta de um plano B adequado por parte da United para passageiros que passam mal em um vôo lotado era algo que certamente o FAA também não gostaria de saber”. Mas não dá pra discutir normas e procedimentos numa situação destas.
Dez horas depois, meu colega saiu do avião direto para o ambulatório do aeroporto de Guarulhos e dali, para o hospital. Crise de labintite? Não se sabe ao certo, o importante é que o Zuquinha está bem.
Belchior tinha razão. Posso dizer que agora tenho medo de avião e esse medo adquiriu contornos mais modestos – agora não penso “e se cair?” e sim “e seu passar mal?”. Um absurdo, dona United, um absurdo. Para vôos noturnos, tenha sempre um antiemético a mão e Saúde Sempre!
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