domingo, 14 de fevereiro de 2010

Meus discos, Meus livros e Nada Mais

Ano, 1998 - a cidade, Rio de Janeiro. Precisava de uma rota de fuga, um porto seguro improvável. Todo mundo quer as praias da novela da Globo. Desafiei o imaginário brasileiro e me enfiei na serra, num pequeno fiapo de Mata Atlântica. Conheci São Pedro da Serra há 12 anos, tipo elo perdido, no final da RJ-142, nem longe nem perto de Nova Friburgo. Sem telefone, nem asfalto ou sinalização – não precisava. Só precisei de um devaneio suspirado do meu amigo Alberto Leôncio: “- você não vai mais querer sair de lá”.
Ano, 2010 – É distrito, mas chamar de vila rima mais com o aconchego de São Pedro, onde tudo indica que o tempo anda mais devagar. Foi justamente essa desaceleração que nos atraiu. Céu, cabana, frio e calor, tudo em ritmo lento, pictórico. Ir à São Pedro é não ter pressa. É um cenário tipo “Show de Truman” e todos são personagens das familias Overney, Monnerat, Spitz (aliás, meio mundo se chama Overney, nome dum dos primeiros suiços a dar as caras em 1822). Tem Overney na padaria, na loja de móveis e no supermercado do Assis. Pudera, onde vivem umas duas mil pessoas, todo mundo tropeça na esquina de todo mundo. Já tive um dos primeiros telefones, hoje não mais – celulares Vivo pegam bem, internet “banda lerda” também, mas ainda que o moderno chegue à São Pedro, ela resiste – tente achar alguém pelo endereço ou cep. Tente encontrar uma pessoa pelo nome (e não pelo apelido). Tente achar uma loja das Casas Bahia ou exigir pressa de um garçom (aí, é forçar a amizade).
Meu MARCO ZERO em São Pedro: Ecoarte Brasil, um canto iluminado por livros, CDs e patchworks caprichosamente misturados, como uma casa de bonecas. E a Zelma sorri, acolhe. Não ter comprado um livro ao som de Pixinguinha (ou dos sambas do Casuarina) é ainda não ter sido abençoado.
Sai carnaval, entra Páscoa, Corpus Christi. Sempre saio com a idéia fixa de não voltar mais lá, mas pra Richard Bach, “Longe é um Lugar que não Existe”. Se ele não conheceu São Pedro da Serra, deveria.

3 comentários:

  1. Recanto inspirador e escritor inspirado. Boa combinação!

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  2. Obrigado Roberto! São Pedro inspira nosso espírito observador e aventureiro! abraços Daniel

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  3. Lembro disso, Telerj num queria instalar telefone pois não havia endereço, Rua Mosaico, etc...

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