Um dia, num churrasco, um amigo me ofereceu uma breja. “Não, obrigado, parei com o álcool”. Meu amigo não acreditou: “-Sério, Danielzinho? Brinca não, cadiquê?”. Expliquei pra ele que as coisas começaram a perder a graça com a Lei Seca e terminaram por recomendação médica. Até onde ele acreditou, não sei. Mas dali pra frente, um fio de esperança prevalece. Nos outros churrascos, ele me olha sorridente e oferece um copinho, mas nem pergunta. Fica o brinde silencioso.
Conheci então o mundo das cervejas ditas “sem álcool”. Há quem diga que o gosto é ruim, o que discordo. Nem ruim, nem bom – diferente. E se você ficar seis meses sem tomar cerveja alcóolica, sua referencial muda e tá tudo certo. Mas geladas, elas cumprem um bom papel de não exclusão da roda de amigos. É incrível, mas em festas e churrasquinhos de amigos parece que quem não bebe não desfruta, é um ET social. O descaso é tão grande que o “abstênio” quase sempre toma bebida quente. E quanto mais sobe o nível etílico dos amigos, os sorrisos do abstênio vão ficando mais amarelos e forçados. Até aí, tudo bem, questão de adaptação. Mas tomar guaraná quente é um pouco demais.
"Sem álcool" - várias marcas, poucas opções |
Só que no Brasil do “vai levar só um minutinho” (e pode durar horas) e do “daqui a pouco” que pode significar “jamais”, cerveja sem álcool TEM álcool e a lei ampara: Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Art. 10: As bebidas serão classificadas em bebida não alcoólica e bebida alcoólica. § 1o Bebida não alcoólica é a bebida com graduação alcoólica até meio por cento em volume, a vinte graus Celsius.
Ok, a lei ampara mas é contraditória: "Bebida não alcoólica é a bebida com graduação alcoólica..." . Afinal é alcoólica ou não é? Então você chega no supermercado, pega uma latinha escrita “sem álcool” e ela tem álcool, são 0,5% de álcool a cada 100mg, o limite da lei. Se eu tomar 10 latinhas ingênuas, sou o “pato” ideal para bafômetros. Algumas tem 0,37%, de álcool, essas são “um pouco mais seguras”. Mas até aí tudo bem, estamos falando de bafômetros. Resta saber se pessoas com rigorosa restrição médica ao álcool (por doença ou por alcoolismo, por exemplo) não estão sendo induzidas a erro e arriscando o pescoço por uma lei “dúbia” sabe-se lá por qual motivo ou interesse. Não encontrei na web uma explicação clara pra isso. Então se o teu médico te proibiu de ingerir álcool, quer um conselho? Procure as latinhas com a denominação “ZERO álcool” no rótulo. Se existe, é porque dá pra fabricar e se dá, desconfie da idoneidade de quem diz que não tem e tem - tá fora. No país do “tudo pode”, sua saúde em primeiro lugar. Fala sério, abstênio se ferra até na legislação. Mas sinceramente não me arrependo.
fonte: Proteste website , MP São Paulo website e Brejas website
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