“Simples Desejo” – quando ouvi pela primeira vez achei a música singela demais. Era simples, como o título. Letra do Jairzinho Oliveira, um instrumental super requintado, uma voz muito melodiosa e versátil. Foi como eu conheci Luciana Mello. Quando me dei conta, botava no CD do carro quando ia ou pro escritório ou pro aeroporto, todos os dias – eram dias onde eu só precisava que o dia terminasse bem. “Hoje eu só quero que o dia termine bem” virou meu mantra nas remotas manhãs em Belo Horizonte. Estou falando de 2002 ou 2003, mais ou menos. A música já tinha dois anos de sucesso, mas eu andava meio alienado. Vendo uma performance dela com “É assim que se faz” num desses “Faustões” da vida, com dança e corpo de baile, a coisa não fechava. Luciana Mello era maior que aquilo. Aquele público não entendia o valor daquela música e não por culpa do público. É mais fácil gostar de Luan Santana do que de Luciana Mello (nada contra o Luan, mas é verdade). Não por coincidência, as aparições dela em programas de auditório foram se tornando raras.
Me envolvi tanto com o som de Luciana Mello, que botei na cabeça que queria contratar um show dela, um desafio pessoal. Missão cumprida. Em 2005, Teatro do Hotel Ouro Minas em Belo Horizonte, quase 500 pessoas assistiam essa pérola negra soltando a voz de pé engessado (um acidente domestico, ou coisa assim) em pleno dia dos namorados. O público? Casais onde no mínimo um dos dois era médico, senão os dois. O teatro veio abaixo, tinha gente sentada no chão, na ante-sala e uma fila de mais de 30 carros tentando uma vaga no estacionamento do hotel. Não dá pra esquecer um dia desses. Eu, envolvido demais com a organização como estava, consegui ver do back stage duas ou três músicas. Mas na hora do “Simples Desejo”, onde tudo aquilo começou, estava no estacionamento junto com a gerência do Hotel acalmando os ânimos de quem não conseguia entrar. Nada é perfeito. Vendo toda aquela gente entoando Simples Desejo, virei e comentei com meu amigo Saldanha: “Cara, conseguimos, você acredita?”.
Passado um tempo, Luciana Mello se tornou a imagem daquilo que dá orgulho no Brasil. Arte honesta, consistente, música popular moderna e de raiz – atemporal, como Jair Rodrigues (tem a quem puxar). E só tem 32 anos. Uma voz sofisticada e acessível, jamais vai ser POP, porque não é pra ser, mas quem se der ao direito de conhecer Luciana, é um caminho sem volta. Se dê a esse Simples Desejo.
Com o novo sucesso Tchau, que nem "Simples Desejo" ela fez aquilo de novo...tá no CD do carro. Veja o video.
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