Pegue umas fatias de pão dormido (que ficaram de um dia pro outro). Molhe numa tigela com dois dedos de leite – deixe o pão absorver um pouco do leite por uns 15 segundos. Então esprema um pouco cada fatia e imediatamente após, molhe numa tigela com dois dedos de ovos batidos. De um lado e de outro, pra banhar bem. No fogo brando, uma panela de ferro com óleo espera o repousar dessas fatias. Pegue um garfo de cabo bem comprido para colocar as fatias, uma a uma no óleo quente. Fique longe da panela, porque o óleo, ao contato com as fatias úmidas, é perverso. Pode saltar nos seus braços e até num olho. Deixe dourar bem cada lado. Prepare um prato com um papel-toalha de lado e deposite ali as fatias pra que todo aquele óleo possa escorrer e ficar no papel-toalha. Além das fatias ficarem mais sequinhas, suas artérias agradecem. Na ponta do processo, minha orientadora observava impávida, pro toque final: polvilhar as espécimes douradas com canela misturada com açucar e pronto. Está dada a receita de RABANADAS, caso alguém queira se aventurar.
Achei que fazer rabanadas pro Natal era difícil. É e não é. Neste Natal, fui aprendiz da minha avó na beira do fogão e cheguei confiante. Mas tem uma lei universal que não tem como contrariar – o valor da mão de quem faz e a exata dimensão dos tempos em cada etapa. Logo vi que aquilo não era pra iniciantes. Experimente deixar o pão no leite alguns segundos a mais do que o aceitável e pronto, o pão se desmancha e essa fatia já não serve mais. Experimente deixar o pão menos tempo na fritura – doura por fora mas fica cru por dentro. E se deixar um pouco a mais, doura por dentro e queima por fora. Muito óleo na panela, o colesterol que se cuide. Pouco óleo, a rabanada ficar crua também. O negócio é tão simples que não tem como esconder a incompetência - ou sabe fazer ou não sabe, é mesmo pra profissional.
A rabanada é um prato português, tradicionalmente servido no Natal, acompanhado de um bom vinho. Aliás, pode ser também feita no vinho ao invés do leite, mas essa eu vou tentar quando me graduar. Prometi pra minha avó que ia ajudar pra não quebrar a tradição da família. Minha avó ostenta seus 85 anos frente a um fogão como ninguém. Mas já nessa altura da vida, o risco de encarar óleo fervendo não vale a ousadia quando se tem netos pra meter a mão. Missão dada, missão cumprida e o módulo avançado (rabanadas ao vinho e ao chocolate) é o próximo passo.
Feliz Natal a todos.
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