segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fábula da Motivação - sobre Cenouras e Burros

Por anos me pergunto se entendi bem esse negócio de motivação. Afinal quem engoliu quem? O mundo corporativo engoliu a motivação ou o contrário?  E essa palavrinha sempre vem junto com a tal da paixão. “Temos que motivar nosso time a cumprir desafios, realizar com garra para obter nossos resultados e tudo isso com paixão!” Pra não ser redundante nem piegas, me lembro claramente de algumas passagens: 
Convenção Nacional realizada em lugar paradisíaco. Mais de 700 pessoas chegando com colares havaianos, lindas garotas dançando axé, comida a valer, coquetéis de fruta, mar azul, sol de rachar. Tudo decorado, palco, iluminação, pirotecnia. O mestre de cerimônias era um ator famoso e tinha até um convidado especial pra falar de superar desafios – o maior jogador de basquete dos últimos tempos, querido por todos. Até uma montanha de bolas foi comprada pra ele autografar pra galera. A equipe de vendas estava com a adrenalina lá em cima. Flashes pra todo o lado. E nós, gerentes da turma, com a missão de manter a adrenalina da equipe em alta e olhos sempre brilhando. Tudo perfeito - sobe no palco o Presidente da empresa, seus diretores e o ator famoso. Tá lá toda a liderança da empresa reverenciando seus colaboradores, fizeram um filme cheio de gente se superando, suando, babando. O tema: futebol e Olimpíada, bem propícios. Uma grana federal investida, muito sacrifício pra estar ali com toda a equipe, alegria geral...até o anuncio das metas pro ano. Nos bastidores, a briga de um mês entre os diretores que concordavam com a meta super extrapolada e os que diziam que era loucura, estava no desfecho – “botou na apresentação pra matriz aquele número insano, agora temos que assumir com determinação”. Saiu gente chamuscada. A beleza do momento durou exatos 15 minutos e aquilo que era pra ser a famosa cenoura que vai na frente virou um nabo vindo por atrás. Na verdade, ficou difícil de saber quem é burro e quem é cenoura. Dali por diante, foram quatro dias de treinamento bizarro, onde as pessoas esqueceram o mar, o coquetel e as garotas dançando. Quase ninguém viu o mar, apenas 16 horas diárias de treinamento pra lançar os próximos quatro produtos, não deixar as vendas das marcas consolidadas caírem e preencher as planilhas do case de negócios. Aqueles cases quilométricos, como uma gincana onde o que sobra no final, além das noites mal dormidas, é suco de cérebro, o pó da equipe, só  a capa do Batman. Mas os olhos precisam continuar brilhando, olhos de sangue mirando o horizonte azul. O jogador de basquete disse: "vocês conseguem!" 

Tirando os clichês, quer saber o final dessa história? Passou um tempo, a liderança da casa já foi pra outra empresa, uns por opção, em cargos melhores. Outros, porque não concordaram com a bizarrice toda, foram demitidos ou se desgostaram. A Força de Vendas? Cada um foi pra um lado, os mais resilientes até foram ficando, outros foram promovidos por terem ajudado a tirar o sangue do pessoal com a tal “cenoura” e outros foram embora para o concorrente  – estão todos chegando em outro resort, pra uma convenção animal, com direito a meninas dançando, um jogador famosos falando de desafios, palco iluminado, tudo preparado...


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