sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Natal 2010 - gestos de doação são deste mundo?

Cirurgiões da Alegria
Não sei se um sorriso cura de fato. Soa meio piegas, alegórico, parece uma metáfora batida de desesperança disfarçada, aquela coisa da Polyanna, que eu já tinha mencionado aqui. Aliás, esses dias recebi um mail gaiato, perguntando se eu estava de brincadeira ou tinha mesmo lido Polyanna – li sim e não me arrependo. Me dou conta que desde sempre era dado a experimentar livros. Não é lá grande coisa mas não perdi a viagem, longe disso. Voltando o raciocínio: mais do que curar, um gesto de doação é pra desconcertar. E foi desconcertante pra mim, chegando na portaria do hospital, encontrar o palhaço Cirurgião Gaguelho, de violão em punho, sapatão vermelho, sorriso de orelha a orelha, pronto pro “front” - o “front” dele é bem diferente do meu e provavelmente do seu também. Ele faz parte da troupe “Cirurgiões da Alegria”. É um artista, como tantos artistas brasileiros que passam de hospital em hospital oferecendo diversão para pessoas debilitadas, algumas sem muita expectativa, velhos, crianças, gente de todo o tipo. Onde um olhar vire um sorriso, está valendo. Os “Doutores da Alegria” (a troupe que começou tudo no Brasil) classifica a “besteirologia” como não tendo contra-indicações e “deve ser aplicada diariamente até que o paciente não saiba mais como ficar triste. É remédio para a vida toda”. Conheço tantos médicos que nem sequer são capazes de disfarçar a própria desesperança para lidar com um paciente de forma mais abnegada (ok, o inverso também é verdadeiro - conheço outros que, junto ao paciente, são pura sabedoria e charme). A doação precisa fazer parte da anamnese.
Gente que se doa desta forma me deixa pequeno e roxo de raiva. Me sinto infame com meus pensamentos negativos, o calculismo exagerado, o ceticismo protetor. Naquela manhã de sol, parecia decidido no meu passo firme e embrutecido. Nada disso. Foi só tropeçar no Gaguelho pra entender tudo errado (ou tudo certo?) – pessoas ali dentro daquele hospital dão menos valor a essas bobagens de rotina cotidiana e mais valor a vida, quem sou eu pra duvidar deles? Ok, não estou preparado pra tanta doação, terei que aprender um bocado, mas tudo tem um início. Esse ano serei Papai Noel pela primeira vez e vou treinar bem o “Rôu, rôu, rôu!!!”  pra não fazer feio. Chega a ser simplório, comparado a esses guerreiros da alegria, mas é meu humilde começo. Feliz Natal a todos e meu carinho especial a quem tem o dom de provocar sorrisos espontâneos em gente que não necessariamente teria motivos pra rir. “Rôu, rôu, rôu!!!”

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