domingo, 5 de dezembro de 2010

"Pai, o que é um Gay?"

Ouvi esta pergunta "em off”, por sobre meu ombro, enquanto enfiava a cara nas notícias do dia. Do perguntador, só via o cabelo em pé escondido atrás do encosto do sofá, num mar de carrinhos. Nessa hora, ganhar tempo é precioso, experiência é o que conta. Devolvi no ato, como quem não quer nada: “-Onde tu ouviste essa palavra?”. “-O Beto, meu colega, vive chamando todo mundo de gay. Disse que é o homem que gosta de beijar homem, arrgh! Pai, isso é verdade?”.  Essa minha mania de querer ganhar tempo – o assunto complicou, resolvi ir por partes.
aprendendo sobre as diferenças
Esperava ser colocado, um dia, no canto da parede por uma pergunta destas. Esse dia ia chegar de qualquer jeito - filhos crescem. Então é besteira querer se preparar pra isso – na hora “H”, a matéria prima ao alcance das mãos é o que você realmente acredita e aí, a máscara cai. Evoquei o mundo como um lugar cheio de pessoas diferentes, ninguém é igual a ninguém. E que as diferenças fazem parte da vida. Enquanto falava, fui “tirando a febre”, pelas reações daquele par de olhos pretos, atentos, me testando em cada palavra. Dei exemplos de animais, de plantas, diferentes idiomas. E que entre as pessoas, funciona do mesmo jeito. Que fisicamente, embora os seres humanos sejam homens e mulheres, o corpo escondia outras diferenças: existem homens que gostam de homens e mulheres que gostam de mulheres e que esta é mais uma das diferenças criadas pela mãe natureza. Pedi que ele me desse exemplos de seres diferentes. Achei graça quando mencionou japoneses. “-Pai o japonês é diferente, porque tem olhos puxados e mora no Japão, mas aqui também tem japonês”. "-Isso mesmo filho." “-E esse negócio de homem beijar homem?”.
“-Cara, as pessoas se beijam quando querem demonstrar carinho, não é? Beijar não é feio, quando é feito com carinho, pelas razões certas. E todo o motivo certo tem também o momento e o lugar certo. Um casal dando aquele beijão tipo desentupidor de pia, no meio da rua ou em novelas, não é exatamente bonito. E aí, não importa se é homem ou mulher, concorda filho?". “-Verdade, pai.” Vi que tinha achado um bom caminho e tomei mais coragem: “-Esse teu amigo infelizmente não teve a chance de ter essa conversa que estamos tendo. Ele está usando a palavra “gay” pra agredir os outros colegas e isso não é certo. Poderia ser outra palavra qualquer, de todo o modo, não é certo querer agredir os colegas gratuitamente, concorda?" Parei ali, quando percebi que os carrinhos já estavam mais interessantes que a minha prosa.
Educar não tem fórmula e não é pra ter, vai depender do que acreditamos e praticamos. É claro que essa conversa ainda vai voltar, porque eles não se contentam com pouco e estão certos – a próxima conversa vai ser sobre “preconceito” e vou estar o mais bem preparado possível. Aprendi com um amigo e guru, Sr. Osvaldo Munhoz: “Na hora do instinto, a pessoa reproduz a atitude que ela mais sabe e sempre praticou”. É assim com os filhos e é assim na vida. Quem sou eu pra contrariar?
fontes: Mente e Cérebro - notícias & Wikipedia

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