domingo, 21 de agosto de 2011

O fim do "Vovô viu a Uva" - Pra que?

Escolas americanas começam a banir o ensino da letra cursiva (a letrinha à mão, emendada, como essa que você está lendo) do dia a dia dos alunos. Começou no estado de Indiana. Um documento do Departamento de Ensino daquele estado declara sua presença “opcional” nos programas de ensino, dando à escola o poder de decisão sobre ensinar ou não, mas recomendando fortemente que não o faça. Argumenta-se que a criançada hoje precisa dominar o teclado do computador ou do smartphone, muito mais do que a caligrafia em papel. Não sou especialista em pedagogia, por isso apelo pro bom senso – atitude injusta e descabida contra a aprendizagem. Desenho desde pequeno e sempre gostei de escrever a mão. Cheguei a escrever histórias de trinta, quarenta páginas de caderno. Dessa época, adquiri um calo no dedo da mão esquerda que nunca mais saiu, é meu troféu. Mas não se trata de saudosismo, pelo contrário. Reconheço que minha caligrafia vem deteriorando sistematicamente pela falta do uso da escrita cursiva. Nunca gostei dos antigos cadernos de caligrafia, mas hoje vendo meu filho em suas lições nesse caderno, percebo o quanto ajuda em sua motricidade fina. Certamente é um fator que contribui pra liberdade com que suas mãos pequenas fazem surgir um belo desenho. 
E se a letra é capaz de mostrar muito sobre um indivíduo, tal qual a própria impressão digital, como fica a Grafologia?  Me parece que vai pelo ralo uma parte importante do conhecimento subliminar sobre pessoas e seus comportamentos. Desde o aparecimento da prensa, que mudou pra sempre o rumo da escrita, essa parece ser a transformação mais radical, porém não muito justificada. O caderno de caligrafia está fadado a ser o álbum de selos nos dias de hoje. E vem pela frente uma população enorme de pessoas dotadas de um aprendizado morto. A letra cursiva passa a ser um hieróglifo da vida moderna. Lápis Faber Castell e canetas Bic vão virar artigo “da vovó”, peça de museu. Há muito tempo a Bic deixou de fazer só canetas e isqueiros - visão de futuro. Não dá pra apostar que o velho hábito de fumar possa ter uma vida útil maior do que o de escrever a mão, mas parece que é exatamente isso que está acontecendo. Tanto quem faz lápis quanto quem faz caneta vai ter que se reinventar - escrever terá que ser gostoso e, sobretudo, "fashion".
Deixem a letra cursiva em paz, ela nunca fez mal algum pro mundo moderno. Já o cigarro e o isqueiro...
fonte: estadão.com e brasil escola website

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