sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Histórias de Carnaval


Aeroporto de São José do Rio Preto, 2002, uma sexta-feira muito próxima da semana do Carnaval. Eu, voltando pra casa depois de uma semana de trabalho intenso. Na noite anterior, tinha me dado de presente um exagero - fico sabendo no lobby do hotel que Ivete Sangalo estava com show no Rodeio da cidade. Não fosse a curiosidade imediata de ver como era um rodeio e um show da baiana (em 2002, ela estava em franca ascensão de carreira), jamais tiraria o nariz pra fora do hotel pra isso. O fato é que a moça levantava a massa, tinha empatia, era boa mesmo de palco como diziam - foi um showzaço, mesmo pra quem não curte axé. Mas a "balada" tinha um preço: eu estava um bagaço e nem tinha ficado pra ver o rodeio. Pensava nisso enquanto fazia o check in na TAM, quando um burburinho chamou a atenção. Justamente Ivete Sangalo entrava no saguão com secretária, segurança, músicos e o “irmão” empresário à tiracolo, Jesus Sangalo. Aspas no “irmão”, porque aquilo não era um irmão, era um armário de quase 200 quilos em seu esplendor. Antes de empresariar a irmã famosa, Jesus era vocalista de uma banda chamada Fera Gorda, uma espécie de Ratos do Porão com dendê.
Ivete e Jesus Sangalo
olha o tamanhinho da fera
Entramos pro portão de embarque, Ivete e o séquito entraram antes. Eu fui atrás de um cafezinho. No balcão, ela conversava com a recepcionista da TAM, uma fã quase sem fala. Só deu pra entender: “- Minha filha, o negócio é osso, viu...”  Era o inconfundível vozeirão da noite passada. Ivete contava algum causo equanto garranchava um autógrafo rápido pra menina. A grade do estacionamento do aeroporto dava pra pista de pouso – coisa de cidade pequena mesmo, ainda mais em 2002. Mais de 100 crianças esperavam ali pra poder ver a musa indo em direção ao airbus da TAM. Não precisaram esperar muito. Ivete viu aquilo e, sem pensar, deixou a menina do café, passou rápida pelo portão que dava pra pista e foi brincar com a criançada. Os três agentes da policia federal que estavam ali não gostaram. Consideraram uma infração e fecharam o portão que separava a sala da pista, deixando Ivete do lado de fora, com cara de quem não entendeu a história. Um trovão invadiu a sala de embarque:
- QUE PÔRRA É ESSA? TRATE DE ABRIR ESSA PORTA IMEDIATAMENTE OU LHE QUEBRO ESSA CARA!” Era Jesus Sangalo que vinha como um trem pra cima do policial que pedia calma.
- CALMA O QUÊ? ABRA AGORA MESMO ESSA PORTA!”. Jesus era segurado por três músicos, mas era pouco. O policial não quis levar a contenda adiante e abriu a porta. Ivete voltou e os ânimos se acalmaram.
Já dentro do avião, peguei minha poltrona e logo me dei conta  da companhia inesperada. Na mesma fileira da executiva estavam Ivete Sangalo e a secretária falando sem parar. Jesus entrou e se veio em minha direção, meigo como um urso polar que acabara de jantar. O corpão fazendo aquela sombra: “- Ô meu amigo, você se importa de trocar de banco comigo? Preciso ficar perto de Veveta pra resolver aqui umas pendências”. Nem pisquei. “- Claro que sim, fique a vontade. Não sou grande nem policial, você acha que eu vou discutir?”. Jesus sorriu amigavelmente: “-Esse pessoal acha que é Deus, meu amigo, os caras não me conhecem”. Nisso, Ivete levantou os olhos ágeis do que fazia, pra remediar: “-Não repare meu irmão. É Jesus, mas é meio sem noção às vezes.” E voltou no mesmo instante ao assunto da hora, que vi por cima dos “ombros” de Jesus, enquanto o avião taxiava na pista: a discussão sobre o set list pro circuito Barra Ondina daquele ano. Carnaval, esse eterno festival.

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