sábado, 11 de junho de 2011

Adesivos de "famílias felizes" - Um "Facebook" à moda parachoque de caminhão

O "legal" e o "real" - quem vai ganhar as ruas?
Gente quer sempre afiliação, aceitação e exposição de sentimentos é uma forma bem conhecida de preencher essa necessidade. Pra isso, redes sociais e micro blogs estão aí pra dar conta de toda essa exposição minuto a minuto. Gente que não desgruda do blackbarry. Escovou os dentes, postou. Deu três passos, postou. Respirou, postou. É a tecnologia à serviço das carências. Mas só isso não chega e os métodos tradicionais prevalecem, como por exemplo, personalizar o próprio carro. Essa tem sido uma forma milenar de aparecer e buscar aceitação – o carro do sujeito diz muito sobre ele mesmo e seus hábitos. Os parachoques de caminhão e os parabrisas com dizeres "Eu amo a minha família" ou "Não tenha inveja, trabalhe" são ícones e sempre puxaram a fila. A última mania: os tais dos adesivos “famílias felizes” grudados na tampa do porta-malas. Cachorrinho, gatinho, as crianças e seus papais de mãos dadas, sorridentes. Exteriorizar relações afetivas e dedicação à família é tido como importante (ainda que falsa) entre brasileiros e agora estampa nossos carros. Mesmo com o declarado risco de marcar o carro, dando informações a bandidos e agressores, ninguém liga - virou febre. 
Sempre que vejo esses adesivos enquanto espero abrir o sinaleiro, me arrepio. Me vem um sentimento bastante perverso de falsidade ideológica no àr – gente amarga, cheia de problemas e neuroses que se refugia num singelo adesivo  como se tudo fosse um mar de rosas. Pai que bate em mãe, filhos que não se entendem, cães que não existem. Como se as mazelas fossem a excrescência e a felicidade uma ordem. Ninguém me engana.  Mas esses dias começaram a aparecer uns adesivos vida real, de “famílias infelizes”. O exibicionismo ficou então mais mundano e os adesivos retratam pais viciados, mães depressivas, crianças brigando, um cachorro morto. Penso em algo mais frugal, que não vi ainda...como seria um adesivo de filho mimado e sogra marrenta? Longe de qualquer apologia, pelo menos esses servem de crítica bem humorada aos exageros que as pessoas cometem, os excessos pela simples necessidade mostrar aos outros que namoram, tem cães e gostam dos filhos, ainda que isso posso ser um mero desejo de quem nunca foi feliz de verdade. Pra quê isso tudo??   

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