quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Paradóxo de importar médicos - não é novidade

A despeito do impacto gerado na opinião pública, governos criarem condições para importação de médicos não é novidade, uma vez que os fatores que motivam esse movimento também são velhos conhecidos: melhores salários e melhores condições de trabalho. A consequência mais evidente é o prejuízo aos países mais pobres (normalmente, os mais necessitados) como fornecedores de mão de obra e o descontentamento dos médicos nativos, reféns de um problema de múltiplas causas.

Tome-se como exemplo a Inglaterra, com 235 mil médicos registrados, dos quais 40% desse efetivo são estrangeiros – a índia é quem mais fornece médicos, mas o país recebe gente de mais de 20 nações menos abastadas. A África é o continente que mais perde médicos e padece tanto com o déficit na formação de mão de obra, como de condições atraentes pra mantê-los em seus países de origem. Em contrapartida, segundo a Associação Médica Mundial (WNA), o continente africano tem apenas 3% da mão de obra médica e magros 1% dos recursos destinados à saúde no mundo. Triste paradoxo. Na via contrária, dos países captadores, quem mais importa médicos são os Estados Unidos, com déficit estimado em mais de mais de 60 mil médicos.

O Brasil tem hoje 1, 8 médicos pra cada mil habitantes. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que, para evitar desfalcar países necessitados, os importadores procurem profissionais apenas em países onde, no mínimo, o índice de médicos por mil habitantes seja semelhante. Nesse caso, entra em cena a questão dos médicos cubanos – o país tem 6,7 médicos por mil habitantes. Sabiamente, a cultura de exportar médicos foi adotada por Fidel Castro para aumentar a influencia da ilha mundo afora e melhorar divisas.

A WNA reconhece que medir o conhecimento (e, como consequência, garantir alguma qualidade) dos médicos estrangeiros é um problema ainda a ser transposto mundialmente. Barbeiragens, riscos aos pacientes e cassações de registro fazem parte desse universo e tornam o tema ainda mais complexo e longe de ter a melhor solução por meio de um único caminho. Mas sempre existem aqueles caminhos que já começam tortos.  Nada garante que um médico espanhol vá dar conta do recado lá em Santa Maria das Barreiras, estado do Pará, onde apenas um abnegado faz milagres (Dr. Sérgio Perini, Cardiologista e o que mais for preciso). Quem, em sã consciência, depois de 10 anos pagando faculdade, vai se jogar num fim de mundo pra passar trabalho? 

Tudo isso deixa claro que o que o Governo Federal propõe não é novidade, mas pode ser perverso se for usado, pra variar, a partir de uma premissa torta – por exemplo, pressão política sobre uma determinada categoria ou motivações e outros supostos interesses ainda pouco evidentes ao senso comum.

Ao invés de estrutura e projetos de suporte e redistribuição populacional de médicos já existentes, dá-lhe mais médicos. É começar a casa pelo telhado. Mas isso também não seria novidade. Vida que segue.

fonte: Deutsche Welle Brasil website e Dr. Drauzio Varella website.

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