sábado, 16 de abril de 2011

Gestão e empresas familiares

Um amigo do Rio de Janeiro é dono de uma pequena empresa de insumos pra indústria naval e queria minha consultoria. Perguntei a ele o que mais atrapalha numa empresa como a dele.  Disparou: “Cá entre nós, ser uma empresa familiar é o primeiro perrengue”. Segundo ele, todo mundo é bem intencionado – pai, cunhado, irmã – mas ninguém tem maturidade o suficiente pra tomar decisões sem colocar o coração na mesa. Falta uma estratégica clara, com declaração de atitudes identificadas com a estratégia. “Não temos indicadores pra nada e o foco dos debates é sempre sobre quanto entrou de dinheiro e quanto tem pra gastar”. E seguiu desabafando: “Também ninguém naquela mesa tem paciência pra definir metas e seguir a cartilha. Um pacto sobre re-investimento dos lucros feito na mesa do escritório normalmente dura até a mesa do jantar – meu amigo, eu penso seriamente se vou adiante com isso ou se vou buscar outros negócios. Sei das brigas que ainda vou enfrentar. Um dia, definimos que pra crescer era necessário profissionalizar a gestão. Contratamos um executivo do mercado, um cara excepcional. Mas na primeira reunião de planejamento, na primeira meia hora, o cara viu a fria em que tinha se metido. Meu pai deixou clara sua determinação de delegar a responsabilidade, mas não a autoridade sobre o plano – foi um barraco. O cara pediu demissão e foi pra nossa concorrente quatro meses depois daquela reunião. E a coisa mais doida é que concorremos com peixe grande. O nosso custo de vendas é maior que o deles, então quanto mais vendemos mais contas temos pra pagar e mais recurso é necessário pra manter essa venda. Ou crescemos agora ou daqui a pouco vamos trabalhar só pra pagar contas - até minha secretária já percebeu o que meu pai e minha irmã não enxergam”.
Saí daquele chopp assombrado com o que ouvi e aflito pelo meu amigo. Uma empresa destas tem vocação pra remodelar um mercado principalmente porque as decisões podem acontecer com a rapidez que falta às grandes. Mas tudo é posto a perder por pura falta de maturidade e preparo de seus donos – tem que saber a hora de parar, de mudar. Tem que ter humildade pra delegar. Continuamos amigos até hoje, mas no dia seguinte liguei pra ele e declinei da consultoria. 

Um comentário:

  1. Ontem ouvi no rádio uma propaganda da empresa HSM, sobre um seminário que ocorrerá em Maio sobre "Family Business" e lembrei deste post...
    Realmente, de acordo com as estatísticas apresentadas mostram que 95% das empresas familiares não sobrevivem após a terceira geração (mostrando a real dificuldade de administração e gestão de negócios entre família).
    Acredito que seria interessante o seu amigo participar deste seminário!

    Obs: Não estou ganhando nada com esta propaganda... :(

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